quarta-feira, 19 de maio de 2010

Sandro

Há duas semanas assisti o documentário “Ônibus 174”.
Se você não assistiu, recomendo fortemente. Esse texto fará mais sentido se você tiver visto as mesmas coisas que eu.




Resumo

Pra quem não sabe o ônibus 174 foi sequestrado em 12 de Junho de 2000, no Rio de Janeiro. Sandro Barbosa do Nascimento, o “bandido”, ficou cerca de 5 horas dentro do ônibus ameaçando reféns e exigindo mil reais e uma granada. Tudo foi filmado e transmitido ao vivo pela TV. No final: duas trágicas mortes. Geísa, umas das reféns morreu vítima de uma falha dos policiais que erraram a mira do tiro. Sandro sobreviveu mas foi asfixiado e morto pelos policiais a caminho da delegacia.


Sandro, o bandido

Analfabeto. Carioca. Brasileiro. Morador de favela. Pai desconhecido. Quando criança assistiu o assassinato da mãe que foi esfaqueada GRÁVIDA. Foi morar com a Tia, sabe lá em que condições; sabe lá com que boa vontade da parte dela. Fugiu. Virou morador de Rua. Foi um dos meninos da Candelária - presenciou a chacina. Foi preso várias vezes na Febem (mesmo assim continuou sem saber ler e escrever). Viciado em drogas – cola, crack, cocaína. Roubava para manter o vício. Depois de atingir a maior idade foi preso mais algumas vezes. Sobreviveu, até então.


Vítima da própria história

No documentário, que hora mostra cenas do dia, hora depoimentos (das vítimas,psicólogos, policiais e familiares), é enfatizada a história do bandido.
Quero deixar claro que a minha intenção não é defender bandidos, nem dizer que Sandro era bonzinho. Mas eu o entendo, como pessoa. E não, NÃO entendo o que ele fez naquele dia, nem pra que – acho que isso não tem explicação. Mas compreendo seu sofrimento e a vontade de se tornar – pelo menos um dia – o personagem princiapal de alguma história. E ele conseguiu. Virou até protagonista de filme.

Tenho que confessar que passei mal e chorei o final de semana todo pensando em quantos Sandros eu encontro pela rua TODOS OS DIAS. Em quantos Sandros me pedem dinheiro na farol e quantos deles estão fadados a um triste fim.

Porque? Porque a vida tem que ser assim? Tão injusta, tão fria e tão cruel para algumas pessoas. Que coisa mais sangrenta a desigualdade social. Isso me revolta. Eu não queria que todo mundo fosse rico, não. Eu queria que todos tivessem, só, oportunidades. Eu queria que todos tivessem, só, o mínimo de uma estrutura familiar e psicológica. Eu queria que todos fossem, só, felizes – ou pelo menos tivessem, só, momentos felizes.

E aí eu escuto que certas coisas não tem como mudar. Será? Mesmo? Destino? Carma?

Se for... Mas que carma e destino filho da puta (sorry!). Nascer sem pai, ver mãe ser assassinada, não ter estrutura alguma, ser viciado, morador de rua, virar bandido e morrer assassinado por policiais depois de viver SÓ coisas ruins.

Que vida foi essa? Será que foi uma vida?

Eu só posso registrar aqui a minha tristeza e a minha incapacidade de fazer algo eficaz perto desse problema gigantesco que já está enraizado como algo normal na sociedade. Me sinto pequena, sem forças, sem ideias. Incapaz mesmo, essa é a palavra.

E aí, o que a gente faz? Se conforma? Diz que cada um tem uma história e... pronto?
Acaba assim, sem um fim. Tendo tantos outros Sandros em cada esquina que eu cruzo.

P.S. Vale dizer que Sandro NÃO QUIS matar ninguém. Nunca matou. Dentro do ônibus, por vários momentos, ele FINGIU agressões, atirou no chão e não nas reféns. Ou seja, não era da índole dele matar.


P.S.1. No seu enterro tinham apenas duas pessoas. Uma delas o coveiro.

3 comentários:

Dee. disse...

Lê gostei muiito do seu texto, ele me fez pensar de um jeito diferente...Te Amoo

Unknown disse...

É norinha, temos muitas coisas em comum, e esse texto é uma delas. Gostei muito! Bjks.

Anônimo disse...

PRAZER EM CONHECE-LA.
O SANDRO MAS CONHECIDO COMO ALE DA CANDELÁRIA FEZ ISSO PORQUE QUERIA SE SENTIR GRANDE.
(SEU NOME NÃO ERA SANDRO E SIM ALESSANDRO)
ALE ANTES DE ASSALTAR O ÔNIBUS 174 ELE ROUBOU UM PASTOR EX NAMORADO DE SUA MÃE E UMA ARMA DESSE PASTOR , ARMA ESSA ENFERRUJADA.
COMPROU COLA E CRACK.
QUANDO PASSAVA PELA CANDELÁRIA ELE VIU A POLICIA CHEGANDO E ENTÃO ENTROU NO ÔNIBUS.
ENTROU UM SENHOR E VIU SUA ARMA ESSE DESCEU DO ÔNIBUS E AVISOU A POLICIA AVISADA A POLICIA MANDOU O ÔNIBUS ENCOSTAR DEPOIS QUE O ÔNIBUS ENCOSTOU O ASSALTO.
ALE TINHA UM ÓTIMO CAMINHO A SEGUIR
O REP MAS ELE RESOUVEU ISSO